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Kika: "A música faz tudo o que eu quiser"


No dia de lançamento do álbum “Love Letters”, a 24 de fevereiro, a Kika aceitou o desafio do The Intern para participou num exercício descontraído de perguntas e respostas, que agora partilhamos consigo. Com uma vida onde tudo é feito com ponderação, fomos descobrir uma Kika que nunca perde o sorriso e que ainda se está a habituar a esta coisa do sucesso. Mas, lá acabou por confessar: "Quero que as pessoas tenham uma reacção física e emocional à minha música".

Não foi apenas a miúda que conhecemos a amadurecer. Sentes essa evolução na tua música?

A minha música mudou muito comigo. Pelo menos, acho que estou mais fiel ao que eu quero fazer e sou capaz de dar expressão ao estilo que acredito ser o meu. Nesse sentido, este álbum é mais verdadeiro que o anterior.

Deste por ti a escolher a música para a tua vida desde muito cedo. Recordas-te de, nessa altura, ter alguma noção do que querias ser?

Eu sempre gostei muito de cantar. Quanto tinha uns cinco ou seis anos comecei a aprender piano. Mas, depois, fartei-me de piano clássico e deixei de praticar. Comecei a tocar só com o propósito de ter algo a acompanhar-me enquanto cantava. Foi assim que descobri que gostava mesmo era de cantar. Depois, aprendi guitarra, bateria...

Pode dizer-se que a música é, hoje, uma escolha mais consciente... Como é que lidas com isso?

É uma escolha mais ponderada. Quatro anos é muito tempo para uma pessoa decidir se há-de continuar ou não a tentar. Eu lancei o meu primeiro disco muito nova e, na altura, claro que também recebi algumas reações menos positivas e isso podia ter-me destabilizado. Mas não foi o caso. Acabou por ser uma oportunidade para eu parar um pouco, perceber se ia continuar com isto e, se sim, como é que iria fazer um trabalho do qual me orgulhasse.

Sobre cantar em português, é algo que desejas fazer? Como é que encaras essa opção?

Já pensei nisso e, inclusive, já dei uns passos nesse sentido. Eu sempre tive interesse em cantar em português, mas sinto-me menos confortável... Até pela minha pronúncia, que é do norte e assumida. Às vezes, quando canto em português as pessoas dizem-me: "Consegues cantar com menos pronúncia?" E eu recuso-me sempre, porque se começo a fazer isso já não estou a cantar. Ao invés de estar a sentir ou o que lhe quiserem chamar, estou a pensar. Esse sempre foi o meu entrave...

"Love Letters": assim se chama o teu novo trabalho. O que nos cantas são histórias de amor?

O nome do álbum surge a partir de uma das músicas, a "Love Letters", e da análise que fizemos das restantes faixas - eu e as pessoas com quem trabalho, quem produziu o disco e quem o escreveu que, coincidentemente são a mesma pessoa, o Dan McAlister. Quando começámos a pensar sobre o que o álbum vinha contar, apercebemo-nos que cada música era uma espécie de carta escrita para alguém, sobre algo que se assemelhava ao amor. Não era amor de relações amorosas, mas era um sentimento forte de querer alguém ou de já não querer.

E o processo - como correu?

Este álbum demorou uma catrefada de tempo... Foi mesmo um trabalho de amor! Espero que as pessoas reajam a esta mudança pela positiva e que prefiram isto que estou a fazer ao que já fiz antes.

O que te levou a escolheres a música "If This Is Love" para ser o rosto deste disco?

Escrevi-a com uma das minhas melhores amigas, a Vicky Montiel. Quando fomos escrever vimos na música não só uma possibilidade das pessoas se poderem relacionar com a história contada, mas também alguma capacidade daquilo ficar no ouvido. Aquele "nananananananananana". Quando a gravámos até chegámos à conclusão que ficou com um feel meio Amy Winehouse. E, eu sempre a adorei.

E é graças a essa música que a "Colorblind" integra a banda sonora da telenovela "Amor Maior", da SIC.

Eu viajei para Madrid quando fui escrever essa música. Lá, a compositora [Aleena Gibson] disse: "Tenho aqui uma música que já escrevi para veres a onda das coisas que escrevo". E, cantou-me a "Colorblind". Eu tinha a Vicky ao meu lado, olhei para ela e disse: "Isto é bom!". Ouvi a primeira frase do refrão [I never knew the color blue until I was loosing you/ I've been colorblind, que em português significa "nunca conheci a cor azul até te estar a perder. Estive daltónico..."] e disse: "Boa frase!". E ela: "Pois é!". Depois, no fim do dia pedi-lhe para ela voltar a cantá-la e para ficar com a música. Eu cantei e ela disse: "A música é tua".

Alguma das músicas tem um significado diferente para ti?

Uma das músicas do álbum chama-se "Next to You" e foi a Vicky que a escreveu. Essa música para mim é dela e sobre a vida dela. Eu identifico-me com a letra, porque eu oiço a vida dela todos os dias... Porque ela é da minha vida. E, depois, quando ela me cantou a letra eu pedinchei pela música. Disse: "Eu preciso dessa música. Eu pago-te. O que é que tu queres por ela?". Umas semanas depois, ela deu-me a música.

Que mensagem é que esperas passar?

Não sei é alguma… Há aquela música muito boa, que é a música que faz dançar. Mas, depois, há a música extraordinária, que é a que faz mexer e sentir. Eu, por exemplo, sou uma fã incondicional da Adele. Há uns tempos, fui ver o concerto dela e quase chorei. E eu não choro! Portanto, eu adoro-a mesmo de coração e é por causa disso. Porque as músicas dela fazem-me sentir coisas que eu não sentiria por outro motivo Por isso, mais do que uma mensagem, quero que as pessoas tenham uma reacção física e emocional à minha música.

Já atuaste em diferentes países e pisaste vários palcos. Mas, qual foi aquele que mais te marcou?

Lembro-me que fui fazer um concerto no Fórum Algarve, um dos meus primeiros concertos assim maiores. Eu comprei um vestido, tinha uma banda e fui para lá fui com a minha família... Com a minha irmã, uns amigos e disse: "Vai estar vazio, vai estar vazio, vai estar vazio, vai estar vazio... Está vazio. Ninguém me conhece. Impossível... Isto está vazio". E, o meu pai disse: "Não está. Eu estou a ver daqui e está compostinho". "Compostinho? Está vazio", pensei eu. Depois, chegou a minha irmã e disse: "Não está. Está cheio!". E eu: "Cheio? Claro que não está cheio". Mas cheguei lá e estava cheio. Não estava a abarrotar, mas estavam pessoas em todo o lado e não existiam espaços para eu olhar e dizer que não estava ninguém. Esse foi um momento em que eu achei que eu ia ficar profundamente desiludida e que não fiquei. Lembro-me muito disso e de olhar e ter a minha irmã e a Vicky a chorarem desalmadamente, porque aquilo estava a acontecer. Eu estava ali a cantar, com o meu vestidinho e estava lá muita gente. Foi um momento que me marcou imenso. Foi dos primeiros e pode até não ter sido dos melhores concertos que fiz , mas foi um em que não me desiludi nem por nada.

O que é que consideras que a música fez por ti?

Mais do que eu fiz por ela. A música faz tudo o que eu quiser. Se quiser que me faça triste faz. Se quiser que me faça feliz também faz. Há uma musica para cada emoção que a pessoa sente. De manhã, consigo ficar bem-disposta ao ouvir uma música e, se quiser, também consigo ficar mal disposta. E, às vezes, a pessoa quer estar maldisposta. Portanto, o que faz por mim é definir o meu bom ou mau humor. Faz-me desligar um pouco de tudo.

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